Porquê devo praticar coisas diferentes no trabalho para ter melhores resultados?
Se você não está melhorando é porque não está praticando de maneira correta. É comum nos depararmos com o efeito platô em nossa melhoria…
Se você não está melhorando é porque não está praticando de maneira correta. É comum nos depararmos com o efeito platô em nossa melhoria. Para ultrapassar essa barreira, é imprescindível que você receba feedback. Não apenas isto, faça também revisões e reflexões sobre as suas ações.
Não ter motivação para continuar o que se está fazendo: é o momento de parar?
A motivação é um dos elementos que compõem um arsenal de ferramentas que o indivíduo utiliza para desempenhar atividades, apesar dos percalços que são apresentados a ele. A motivação é um estado em que o sujeito se encontra inconformado com a realidade que o rodeia.
Esta insatisfação gera um desejo de mudança, isto é, um motivo para realizar ações/ comportamentos para mudar o estado em que está inserido. Desse modo, motivação é um motivo para agir, desencadeado pelo inconformismo, que por sua vez, incendiou o desejo de mudar.
É interessante pensar dessa forma, no entanto, depender da motivação para começar alguma coisa é um tiro contra sua própria pessoa. Isto porque este elemento é instável na sua essência e quando ele está ausente você começa a questionar o por que deveria realizar determinada tarefa sendo que ela não te trará consequências no curto prazo.
É neste momento de desamparo que as suas razões para acreditar devem ser maiores que suas desculpas. O seu por quê (Simon Sinek) precisa estar além dos limites mentais que lhe incute. Neste contexto, Anders Ericsson, em seu livro “direto ao ponto”, escreve o seguinte:
“Manter a motivação que permite tal regime tem duas partes: razões para continuar e razões para parar. Quando interrompe alguma coisa que, inicialmente, você queria fazer é porque as razões para parar, num dado momento, superam as razões para continuar. Assim, para manter sua motivação, você pode reforçar as razões para continuar ou enfraquecer as razões para sair. Os esforços bem-sucedidos de motivação geralmente incluem ambos (ERICSSON, p. 178).”
O que quero dizer é que, de fato, motivação ajuda muito. Mas você precisa realizar as tarefas sem depender dela. É o que escreve James Clear (2019, p. 232): “Se só fizer o trabalho quando for conveniente ou empolgante, nunca será consistente o bastante para alcançar resultados notáveis.”
Dito isto, executar determinadas atividades devem ser feitas porque devem ser feitas, apesar do cansaço e do tédio. É isso que reforça a pessoa quem você quer se tornar e te discrimina do amadorismo para o profissional.
Todo mundo fica desmotivado. A diferença é que alguns encontram uma maneira de continuar, apesar do tédio. Enquanto outros, quando sentem uma pequena baixa no nível de motivação, começam a sabotar o próprio progresso, querendo encontrar outras estratégias, mesmo que a antiga esteja surtindo bons resultados.
Robert Greene compartilha desta mesma concepção ao dizer que precisamos desenvolver a capacidade de resistir às intempéries do processo e ressignifica-las como um pequeno ato que sequenciado por outros formam resultados impossíveis de não notar.
“Leonardo da vinci adotou como lema a expressão ostinato rigore (rigor obstinado/prática perseverante) para cada projeto em que se envolvia. Ele repetia esse mote, e atacava cada um com o mesmo vigor e determinação. A melhor maneira de neutralizar nossa impaciência natural é cultivar uma espécie de prazer na dor — como os atletas, você passa a gostar do exercício exaustivo, da superação dos limites e da renúncia às práticas simplistas e ineficazes. (Greene. P. 234)”
A título de complemento, James Clear segue a mesma linha de raciocínio ao escrever que precisamos aprender a gostar o tédio:
“Haverá dias em que terá vontade de desistir. Quando inicia um negócio, haverá dias em que você não vai querer ir até lá. Ao frequentar a academia, haverá séries que não vai querer fazer. Quando chegar a hora de escrever, haverá dias em que não vai querer digitar. Mas insistir quando é irritante, doloroso ou desgastante é o que faz a diferença entre um profissional e um amador. […] A única maneira de se tornar excelente é ser infinitamente fascinado por fazer a mesma coisa repetidas vezes. Você tem que se apaixonar pelo tédio”. P. 232
É desse modo que cada ação beneficia a aparição dos seus resultados, que começaram a ser inegáveis. Melhorar dia a dia é como adicionar um grão de areia ao lado positivo da balança, ela vai inclinando as coisas a seu favor, no devido tempo. Dito isto, você atingirá o ponto de virada. O peso do sistema está trabalhando para e não contra você.
Crie ótimas estratégias, mas saiba o momento de mudá-las
É comum pensarmos que quanto mais tempo estamos executando algo, melhor ficamos. Assim, se praticamos algo por 7 anos, somos melhores que aqueles que praticam a mesma coisa por 4 anos. Depositamos uma confiança exagerada no “fator tempo”.
Realmente, tudo na vida leva tempo. No entanto, você terá expertise em algo se atrelar o fator tempo com o fator feedback.
As pessoas supõem que alguém que dirige há 20 anos deve ser um motorista melhor do que alguém que está dirigindo há 5 anos, que um médico que pratica a medicina há 20 anos deve ser um médico melhor do que aquele que está praticando há 5 anos, que um professor que está lecionando há 20 anos deve ser melhor do que um que leciona há 5 anos.
Mas não é verdade. As pesquisas mostraram que, falando de maneira geral, uma vez que uma pessoa atinge aquele nível ‘aceitável’ de desempenho e automatização, os anos adicionais de prática não levam a um aperfeiçoamento.
Na verdade, o médico, professor ou o motorista que vêm exercendo a profissão há 20 anos provavelmente serão um pouco piores do que aqueles que exercem há apenas 5 anos. A razão para explicar esse fato é que aquelas habilidades automatizadas se deterioram gradualmente na ausência de esforços deliberados para melhorar (ERICSSON, p.36).
Para evitar isto, pratique coisas diferentes no seu trabalho para progredir.
Porquê devo praticar coisas diferentes no trabalho para ter melhores resultados?
A prática de atividades não costumeiras na rotina de trabalho é uma forma de modificar a fiação neural, isto é, as sinapses do nosso cérebro começam a fazer novas ligações com outras sinapses que antes não era possível devido à prática das mesmas atividades todos os dias. Com práticas diferentes (não costumeiras) nosso cérebro recebe estímulos não recebidos antes.
Dessa forma, é natural sentir certo incômodo ou incerteza na hora de executar as novas funções, visto que as novas sinapses neurais são prematuras. Elas amadurecem com a prática dessa nova tarefa e, em consequência, a função que antes era penosa, agora se faz com maestria.
Isso é banal! Além de normal, é sinônimo do egrégio e velho bordão intitulado como “Sair da zona de conforto” a fim de expandi-la com a prática de novas aptidões que resultam na expansão de habilidades. Entre outros, esse processo aumentativo da zona de conforto é feito graças ao exercício de mão dupla:
a prática de novas atividades desafiadoras e não costumeiras;
seu melhoramento com o feedback.
Em suma, aprender enquanto o trabalho real é feito significa executar a tarefa e receber feedback imediatamente. Depois disso, realize outras atividades do mesmo nível de dificuldade ou superior com sequência o feedback. Essas rodadas de apreciação resultam em melhoramento, aperfeiçoamento e aumento da zona de conforto. Isso é chamado de prática orientada (ERICSSON, p.136).
Diante disto, é válido dizer que só é possível o progresso se as pessoas reconhecerem e rejeitarem três mitos predominantes:
Crença de que as habilidades de um indivíduo são limitadas pelas características geneticamente estabelecidas. O tipo certo de prática pode ajudar quase todas as pessoas a melhorar em quase qualquer área que escolham focar;
Se você faz alguma coisa por tempo suficiente, certamente vai melhorar nela. Fazer a mesma coisa repetidas vezes, exatamente da mesma forma, não é uma receita de melhora; é uma receita para estagnação e declínio gradual;
Tudo o que é preciso para melhorar é esforço. Errado! Você precisa usar técnicas específicas para melhorar habilidades.
Como escreve Ericsson (2017, p. 134) Se você não está melhorando é porque não está praticando de maneira correta.
Desse modo, é inevitável que você não consiga realizar algo com Maestria. Falando nesta palavra, Robert Greene escreve que a maestria é um resultado de fatores que são:
“Maestria = tempo + foco intenso em determinado campo de atuação ou área do conhecimento + o fator X.”
O “Fator X” diz respeito ao ambiente, sua capacidade de foco extremo, sua capacidade de internalizar os detalhes e a sua perspectiva global.
James Clear (2019, p. 236) define maestria da seguinte maneira:
“Maestria é o processo de estreitar seu foco em um pequeno elemento de sucesso, repetindo-o até que você interiorize a habilidade e, então, usar o novo hábito como base para avançar para a próxima fronteira de seu desenvolvimento.”
Importância do Feedback para que os hábitos proporcionem um progresso constante
É comum nos depararmos com o efeito platô na nossa melhoria. Para ultrapassar essa barreira, é imprescindível que você receba feedback. Não apenas isto. Faça também revisões e reflexões sobre as suas ações. Isto faz com que você tome mais consciência dos seus erros.
Digo isto porque quando adquirimos certos hábitos o praticamos tão automaticamente que não tomamos consciência deles. Quando um hábito é incorporado, ficamos menos sensíveis a feedbacks, realizamos falhas sem perceber.
É por isso que é importante a revisão e a reflexão. E falo mais, James Clear escreve que ao incorporarmos um hábito, construímos uma nova identidade compatível com os seus novos comportamentos. A questão é que essa nova identidade pode ser justamente o que vai te impedir de subir para o próximo nível.
A nova identidade nos prende em nossos padrões anteriores de pensamento e ação. Desse modo, é mais difícil crescer além dela. Você fica muito apegado a esta identidade. Isto torna você frágil, uma vez que se você perdê-la, você se perde junto.
Uma dica é você não deixar que uma única crença sua seja uma parte esmagadora de quem você é. Se você deixar que uma única crença defina a maior parte de sua pessoa, menos será capaz de se adaptar quando a vida te desafiar (CLEAR, 2019, p. 244).
Sendo assim, a sua identidade deve trabalhar junto com as circunstâncias em seu entorno para você conseguir se adaptar e adquirir novas habilidades, que construírão novas identidades, que por sua vez, irão fazer você subir para outro nível.
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Caso queira continuar essa conversa comigo sobre esse assunto, este é meu Linkedin: Erick Sugimoto.
CLEAR, James. Hábitos atômicos. Rio de Janeiro: Atla Books, 2019.
ERICSSON, Anders; POOL, Robert. Direto ao ponto: os segredos da nova ciência da expertise. Belo Horizonte: Editora Gutenberg, 2017
Maestria — Robert Greene.
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